Rússia diz ser "prematuro" falar sobre razões da queda de avião
Um responsável da companhia aérea russa Metrojet garantiu ontem que a queda do Airbus A321 no Sinai se deveu a "fatores externos", negando a existência de falha técnica do aparelho ou erro do piloto. Mas o diretor da agência de supervisão da indústria de aviação civil russa, Alexander Neradko, considerou ser "completamente prematuro" falar sobre as razões da tragédia que causou a morte a 224 pessoas, pedindo à comunidade da aviação que se "abstenha" de fazer comentários. Os EUA dizem não ter "ainda" provas "diretas" de terrorismo.
O Airbus A321-200 da companhia Metrojet, que pertence à transportadora russa Kogalymavia, fazia a ligação entre a estância turística egípcia de Sharm el-Sheikh e a cidade russa de São Petersburgo quando se despenhou no sábado no Sinai, 23 minutos após a descolagem, matando as 224 pessoas a bordo (todas russas à exceção de três ucranianos e um bielorusso). Os corpos já estão em São Petersburgo. Ontem, as autoridades russas confirmaram a identificação das primeiras quatro vítimas.
Logo após o acidente, um grupo ligado ao Estado Islâmico no Egito alegou ter sido o responsável pela queda do aparelho, dizendo ter atuado em represálias pelos ataques de Moscovo contra alvos sírios. Os peritos garantem que isso seria impossível, pensando na hipótese de ter sido usado um míssil, já que o grupo não tinha capacidade para atingir um avião que voava a 31 mil pés (nove mil quilómetros). Mas o grupo disse que tinha sido responsável por derrubar o avião, não tendo falado em abater. A primeira formulação pode ser usada no caso de colocação de uma bomba a bordo, que revelaria falhas de segurança no aeroporto de Sharm el-Sheikh.
"Excluímos a hipótese de falha técnica do avião ou de erro do piloto. A única explicação é que se deveu a fatores externos", disse o vice-diretor-geral da Metrojet, Alexander Smirnov, numa conferência de imprensa em Moscovo. Segundo o responsável, no minuto antes de desaparecer dos radares, o aparelho caiu cinco mil pés (1,5 km) e a velocidade baixou 300 km/hora. "Isto não é voar, isto é cair. Aparentemente, o avião sofreu danos antes e isso foi a razão da queda", acrescentou. Smirnov explicou ainda que o piloto não emitiu qualquer pedido de ajuda.
Uma fonte da comissão egípcia que está a analisar as caixas negras disse à Reuters, sob anonimato, que o avião não foi atingido do exterior - mas recusou dar mais pormenores. O diretor dos serviços secretos norte-americanos, James Clapper, disse à imprensa em Washington que os EUA "não têm qualquer prova direta do envolvimento terrorista", mas acrescentou a palavra "ainda". O mesmo responsável disse que não põe de lado a hipótese de o Estado Islâmico ter a capacidade de abater um avião, apesar de o considerar "pouco provável".
Após ter passado o fim de semana em silêncio, o presidente russo descreveu o ocorrido como "uma enorme tragédia" e enviou condolências às famílias das vítimas. "Não há dúvida de tem de ser feito tudo o que é preciso para poder dar uma imagem objetiva dos eventos para que se saiba o que aconteceu e se possa reagir de forma apropriada", afirmou Vladimir Putin. Mais cedo, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, tinha dito que não se podia pôr de lado qualquer hipótese. Quando os jornalistas perguntaram se podia ser terrorismo, pediu para se esperarem os resultados da investigação.
Acidente em 2001
O A321 que caiu no Sinai foi construído em 1997 e teve em 2001 um problema durante uma descolagem no Cairo - a cauda bateu na pista. O aparelho foi reparado de imediato e ainda no ano passado passou as inspeções técnicas. Mas esse historial terá de ser avaliado pelos peritos, até porque há pelo menos o relato de um acidente fatal provocado por reparações na secção da cauda que não cumpriram as especificações da empresa fabricante. Em 1985, 520 pessoas morreram quando um Boieng 747 da Japan Airlines entrou em descompressão explosiva, sete anos após ter passado por reparações por a cauda ter batido na pista durante uma descolagem.
A empresa garantiu ontem não ter havido falha técnica, mas os investigadores mantiveram o silêncio. Além disso, a viúva do copiloto do aparelho indicou a uma televisão russa que o marido se queixava do estado do avião antes do acidente. Em relação à restante frota da Kogalymavia, a porta-voz da companhia que é proprietária da Metrojet, Oksana «, garantiu que "se por um momento duvidássemos da preparação dos nossos aviões e pessoal, então pararíamos os voos".